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Elvis estreou nos cinemas brasileiros prometendo contar a história de vida e de carreira de um dos ícones do rock, e não decepcionou. Abusando do exagero nas roupas, cenas e na fotografia, o filme mostra potencial para conquistar a audiência.
E falar que o filme do Elvis é um grande exagero não é, necessariamente, um ponto negativo. Como tudo que se refere a ele sempre foi exagerado, o longa não poderia assumir um tom blasé. Esse, inclusive, é justamente o maior acerto do diretor Baz Luhrmann. Com duas horas e quarenta minutos de duração, o espectador nem sente o tempo passar— a menos que tenha exagerado no refrigerante— ao mergulhar na história de um dos maiores cantores do mundo.
Elvis conta a história do astro desde a infância difícil até a queda, passando, é claro, pela ascensão, quando ele se torna um dos cantores mais famosos e bem pagos dos Estados Unidos. Nascido em Tupelo, Mississippi, no ano de 1953, o menino tinha um irmão gêmeo, chamado Jesse, que morreu 35 minutos após o parto e foi enterrado em uma caixa de sapato, uma vez que a família não tinha dinheiro nem para o caixão.
As tragédias da família Presley não pararam por aí: seu pai foi preso por estelionato, enquanto Elvis e sua mãe foram despejadados de onde viviam, indo morar em um bairro de pessoas negras (vale lembrar que, nesta época, a segregação racial era muito presente).
Após esses episódios, a vida do garoto vai seguindo sempre rodeado de influências negras. Elvis começa, então, a cantar numa banda e sua voz cai nos ouvidos de Tom Parker (Tom Hanks), um homem ganancioso que vivia de dar golpes nas pessoas.
É inclusive sob o ponto de vista de Parker que a história é contada. A primeira meia hora de tela é focada totalmente no empresário, e só após esse tempo que o filme se torna realmente sobre Elvis.
Outro ponto que vale falar é que existe um mistério em revelar o rosto do cantor. A princípio, ele aparece sempre de costas ou de lado, e só depois de um tempo dá as caras para a tela. Isso pode soar desinteressante e fazer o filme custar a engatar mas, após revelar Austin Butler como o rei do rock, o longa resgata o fôlego e o ritmo.
Exagero no tom certo
Butler encarnou brilhantemente a personalidade do astro, obviamente abusando do exagero. Desde o jeito de dançar rebolando os quadris até o tom de voz, passando pela maneira de falar com a boca semi aberta olhando para baixo, tudo parece milimetricamente bem encaixado.
E isso é mérito do ator, que fez preparação vocal há cerca de um ano antes das gravações começarem. É ele que canta na fase jovem de Elvis — nas outras fases, a voz de Austin é misturada com gravações originais do cantor. Esse, inclusive, é outro acerto!
A caracterização é tão bem feita que, somado ao fato do efeito granulado de alguns trechos do filme para parecer uma filmagem antiga, pode fazer com que o espectador se confunda e não tenha certeza se está vendo Austin ou o verdadeiro Elvis.
Isso fica mais evidente em uma cena quase no final do longa, quando mostra o cantor já deprimido, doente, com sobrepeso, sentado em frente ao piano em seu último show antes de morrer.
Dá para notar que, pouco a pouco, tudo vai se deteriorando na vida do astro: seu corpo, suas finanças, seu casamento… Só uma coisa continua intacta: sua voz.
Já Tom Parker, por sua vez, é um empresário bonachão e ganancioso que não entende nada de música e suga tudo o que pode do cantor para sustentar seu vício em jogo. Tom Hanks dá o tom exato do personagem, que termina sua vida sozinho vagando pelos cassinos de Las Vegas.
Além dos dois protagonistas, aparecem Priscilla Presley (Olivia DeJonge), a esposa do cantor, e sua filha Lisa Marie, que apesar de serem pessoas importantes na história, não ganham muito espaço no filme.
Elvis The Pelvis
Conhecido pelo seu rebolado único, Elvis foi perseguido pelos grupos conservadores da época que viam nesse estilo de dança luxúria e pecado. Nos tabloides tradicionalistas, ele recebeu o apelido de “Elvis The Pelvis” pelo seu modo de se apresentar nos palcos.
Modo esse que Tom Parker tenta mudar a fim de não desagradar essa elite e continuar ganhando dinheiro. Mas, o que incomodava mais não era apenas o rebolado, o cabelo “de menina” e a maquiagem nos olhos, e sim o fato de Elvis cantar e dançar igual negro.
O não embranquecimento da história
O cantor viveu a vida toda rodeado de pessoas negras, chamadas, na época, de pessoas de cor, e isso é bem retratado no filme que mostra, inclusive, a relação de Elvis e B.B King (Kelvin Harrison). Foi na igreja de negros que ele aprendeu a dançar e rebolar, o que mais tarde viria a se tornar sua marca registrada.
Ao misturar soul, gospel e folk, ele conquistou os Estados Unidos. Mas, em uma época em que o segregacionismo estava tão presente, onde havia barreiras físicas separando negros e brancos, cantar como um negro era uma grande ofensa para a sociedade.
Desse modo, Elvis tinha o talento de um negro com a passabilidade de um branco, e isso lhe permitiu emergir e se tornar um astro, ainda que tivesse que ir contra a corrente. Um ponto marcante é quando ele comenta com B.B King que estão querendo lhe prender devido ao seu jeito de dançar. O amigo retruca dizendo que Elvis é branco e pode fazer o que quiser, enquanto ele, sendo negro, pode ser preso apenas por atravessar a rua.
Um Elvis para todos os públicos
Até quem não é fã ou não conhece muito a vida e a carreira do cantor tem chances de gostar do longa. Isso porque o enredo é bem construído, os figurinos trazem um ar de nostalgia e os grandes sucessos embalam as mais de duas horas de tela. Tom Hanks e Austin Butler não deixam a peteca cair, e não dá para negar que a história de Elvis por si só já vale a pena.
No filme, o astro lamenta por estar perto de fazer quarenta anos e nunca ter feito nada inesquecível. O que ele não imaginava é que 45 anos após a sua morte, continuaria sendo uma das principais vozes do rock e ganharia um filme para chamar de seu.
Por Diandra Guedes, para o Canaltech.
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> PRÉ-ESTREIA DIA 13 DE JULHO, ÀS 19h50.
Após quase uma década afastado da direção de longas-metragens, o cineasta Baz Luhrmann (“O Grande Gatsby”, “Moulin Rouge: Amor em Vermelho” e “Romeu+Julieta”) retorna às telonas com a cinebiografia de um dos maiores astros da música mundial. “Elvis” protagonizado por Austin Butler e com o astro Tom Hanks no elenco, terá sessão de pré-estreia no Cine Cultura Liberty Mall.
O longa-metragem poderá ser visto um dia antes da estreia oficial, em comemoração ao Dia Mundial do Rock, em 13 de julho.
O filme aborda a vida e a música de Elvis Presley (Austin Butler) sob o prisma da sua tumultuada relação com seu empresário enigmático, o coronel Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na complexa dinâmica entre Presley e Parker, que se estendeu por mais de 20 anos, desde a ascensão de Presley à fama até seu estrelato sem precedentes, tendo como pano de fundo a evolução da paisagem cultural e a perda da inocência na América. No centro dessa jornada está uma das pessoas mais importantes e influentes na vida de Elvis, Priscilla Presley.
“Elvis” foi exibido no Festival de Cannes deste ano, e está indicado ao Hollywood Critics Association Midseason Awards nas categorias melhor filme, melhor ator e melhor diretor.
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O Festival Varilux de Cinema Francês está de volta para sua 13ª edição, aqui no Cine Cultura Liberty Mall, entre 23 de junho e 6 de julho. Durante os 14 dias de programação, o público poderá conferir diversas produções exclusivamente nos cinemas.
Além de títulos de comédia, drama, suspense e animação, o público especializado de roteiristas, diretores e profissionais de cinema e TV poderá participar do quinto Laboratório Franco-Brasileiro de Roteiros, com 16 participantes selecionados para desenvolver a escrita para longa-metragens e séries.
O único festival que acontece simultaneamente em todo o Brasil diminuiu o alcance em 2021 devido à pandemia da covid-19, exibindo longas em salas de cinema de 22 estados e o Distrito Federal. Na capital, a mostra será exibida nas salas do Cine Cultura Liberty Mall.
“Nos dois últimos anos, trabalhamos arduamente para não perder o contato com o nosso público fiel: os amantes da filmografia francesa. Queremos nos reencontrar com todos novamente e conquistar novos espectadores para celebrarmos mais um ano nas salas de cinemas, o melhor lugar para consumir filmes. E esperamos ver todos novamente no festival”, afirma o diretor e curador do Varilux, Christian Boudier.
Assista a vinheta oficial: Festival Varilux de Cinema Francês 2022
Os ingressos para todos os dias do Festival já estão a venda.
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> PRÉ-ESTREIA SOMENTE DIA 11 DE JUNHO, ÀS 20h40.
Aline – A Voz do Amor, tem pré-estreias antes do lançamento em algumas cidades do Brasil.
Filme de Valérie Lemercier, uma ficção livremente inspirada na vida de Céline Dion estreia no Brasil em 16 de junho.
O filme será lançado nos cinemas em 16 de junho pela distribuidora Imovision, com distribuição digital, feita pela Synapse Distribution, e neste fim de semana tem pré-estreia aqui no Cine Cultura, no dia 11 de junho, às 20h40.
No César 2022, Aline A voz do Amor foi indicado a 9 categorias do Prêmio: Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Som, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção e Melhores Efeitos Visuais.
Valérie Lemercier venceu por sua atuação no longa, fora sua passagem pelo Festival de Cannes com aplausos após a exibição.
O filme é uma uma ficção livremente inspirado na vida da cantora Céline Dion, de sua infância ao estrelato, as músicas incônicas, suas conquista e lutas, o romance com o marido e tudo que fez dela um ícone sendo a 14ª filha de uma família modesta do Canadá até se tornar uma das cantoras mais famosas do mundo.
Lançado na França, o filme fez mais de 1 milhão de espectadores. O longa contará, também, com distribuição digital, feita pela Synapse Distribution.
No início do projeto a cineasta Valérie Lemercier ouvia músicas de Celine Dion, porém ela não conhecia bem a vida da cantora ou todo o seu repertório. Foi em 2016, ao vê-la sem o marido René (falecido em janeiro de 2016), que foi tocada por sua coragem e solidão. A cineasta lembra:
“Eu disse no rádio no dia em que “50 São os Novos 30” foi lançado que meu próximo assunto seria ela, sem pensar seriamente nisso. Naquela noite, Emmanuelle Duplay (a desenhista de produção do filme) que tinha ouvido a transmissão, me disse que ela absolutamente queria fazer isso. Lembro-me muito especificamente que foi o entusiasmo dela que me permitiu seguir em frente e considerar seriamente fazê-lo.”
Aline A voz do Amor é o sexto filme da diretora Valérie Lemercier. Para a ocasião, a atriz e cineasta optou por se inspirar na jornada da cantora mais famosa de todos os tempos: Celine Dion. Ela mesma interpreta Aline Dieu, alter ego fictício da quebequense.
Valérie Lemercier chamou a cantora Victoria Sio, revelada no musical “Le Roi Soleil”, para dublar sua voz nas partes cantadas. Além de gostar de suas canções e sua trajetória de vida.
Aline seria lançado em novembro de 2020. Mas devido à pandemia de Covid-19, o filme foi adiado para 17 de fevereiro de 2021 e depois para novembro do mesmo ano. Lançado na França o filme fez mais de 01 milhão de expectadores
Logo após o lançamento do filme, Valérie Lemercier respondeu às críticas de parte da família Dion. A cineasta foi, de fato, alvo de fortes protestos de Claudette e Michel Dion, irmã e irmão da cantora, na televisão de Quebec na última terça-feira. Contatada por La Presse, Valérie Lemercier notavelmente (re)explicou sua abordagem com este filme: “É cinema. Não é um documentário, é uma ficção. Diz-se no início do filme: há coisas que não são que são da imaginação de Brigitte Buc e minha, que escrevemos o roteiro.”
“Um grande filme e uma verdadeira declaração de amor a Celine Dion” – Le Parisien
“Este filme biográfico muito pessoal é um sucesso” – Ouest France
“Um filme de fã muito bom que acaba por ser incrivelmente tocante” – La Voix du Nord
“Mistura de forma brilhante fascínio e ironia” – Le Figaro
“Repleto de admiração no tom e audácia na construção” – Le Journal du Dimanche
“Um filme livre e encantador” – Les Echos
“Fora do comum, extravagante e engraçado” – Sud Ouest
SINOPSE CURTA:
Uma ficção livremente inspirada na vida de Céline Dion. Da infância ao estrelato, as músicas, as lutas, o romance e tudo que fez dela um ícone. Descubra como a 14ª filha de uma família modesta do Canadá se tornará uma das cantoras mais famosas do mundo.
FICHA TÉCNICA:
Um filme de Valérie Lemercier
– Título original: Aline
– Direção: Valérie Lemercier
– Roteiro: Valérie Lemercie, Brigitte Buc
– Produção: Sidonie Dumas, Alice Girard, Edouard Weil
– Fotografia: Laurent Dailland
– Edição: Jean-François Elie
– Direção de arte: Cécile Arlet Colin Greg Nowak
– Gênero: Drama
– País: França
SOBRE A DIRETORA:
Valérie Lemercier nasceu na cidade de Dieppe, na França. Filha de fazendeiros, cresceu sendo educada numa escola de freiras. Lá, começou a se interessar por interpretação através das aulas de teatro. Na juventude, mudou-se para Paris e estudou artes na Université Paris-Sorbonne. Em paralelo, atuou em diversas peças teatrais. Estreou como atriz de TV em Palace (1988), série de comédia do Canal+.
Em seguida, deu início a sua carreira no cinema em Loucuras de uma Primavera (1990), comédia dramática de Louis Malle. Alçou fama no cenário cinematográfico a partir de Os Visitantes: Eles Não Nasceram Ontem! (1993), ao lado de Jean Reno, pelo qual foi premiada com o César de Melhor Atriz Coadjuvante. Obras como Sabrina (1995), Le derrière (1999), Palais royal! (2005) e Um Lugar na Platéia (2006),O pequeno Nicolau(2010), As Férias do Pequeno Nicolau(2014) a estabeleceram como uma das grandes atrizes francesas de sua geração.
SOBRE A DISTRIBUIDORA:
Distribuidora presente no Brasil há mais de 25 anos, a Imovision vem se consolidando como uma das maiores incentivadoras do melhor cinema, tendo lançado mais de 300 filmes no Brasil.
A distribuidora tem em seu catálogo realizações de consagrados diretores internacionais e nacionais, e filmes premiados nos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, como Cannes, Veneza, Toronto e Berlim. Mantendo seu foco em títulos de qualidade, a Imovision foi a responsável por introduzir no Brasil cinematografias raras e movimentos internacionais expressivos, como o Movimento Dogma 95 e o cinema iraniano.
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> PRÉ-ESTREIA SOMENTE DIA 11 DE JUNHO, ÀS 20h40.
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> ESTREIA EM 5 DE MAIO
DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA
O Multiverso foi aberto e expande seus limites para mais longe do que nunca. Embarque em uma viagem para o desconhecido com o Doutor Estranho que, com a ajuda de aliados místicos antigos e novos, atravessa as perigosas realidades alternativas e alucinantes do Multiverso para enfrentar um novo adversário misterioso.
Elenco: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Elizabeth Olsen, Benedict Wong, Xochitl Gomez, Michael Stühlbarg, Rachel McAdams
Direção: Sam Raimi
Produção: Kevin Feige
Gênero: Ação, Fantasia, Terror
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Medida Provisória é o primeiro longa de ficção de Lázaro Ramos. O filme, que tem como protagonistas Taís Araujo, Alfred Enoch e Seu Jorge, conta ainda com um grande elenco de 77 atores, entre eles Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Xavier, Emicida, Flávio Bauraqui e Paulo Chun. O enredo se passa num futuro distópico em que o governo brasileiro decreta uma medida que obriga os cidadãos negros a voltarem à África como forma de reparar os tempos de escravidão – a partir desse conflito e da história de amor vivida pelos personagens de Taís e Alfred, o filme debate questões sociais e mistura humor, drama e thriller.
Selecionado para SXSW 2020
O que vocês vão encontrar no Medida Provisória: https://www.youtube.com/watch?v=k6GSIq7kMPY
_Medida Provisória
Direção: Lázaro Ramos
Produção: Lereby Produções e Lata Filmes
Coprodução: Globo Filmes
Elenco: Alfred Enoch, Taís Araujo, Seu Jorge, Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Xavier, Flavio Bauraqui
Participação especial: Emicida
Direção musical: Rincon Sapiência
Baseado na peça “Namíbia, Não!“, de Aldri Anunciação
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Entre distanciamentos sociais e aproximações românticas
“Se você quer olhar dentro do coração de alguém, então sua única opção é olhar profundamente para dentro de si”, diz Takatsuki para Kufuku. Em uma época de distanciamento social e perda, é difícil falar sobre Drive My Car. Não pelo conteúdo pesado de seus diálogos ou por ser mais uma adaptação de uma obra de Haruki Murakami, mas por ser sincero.
Em três anos de pandemia, perdemos muito. Entes queridos, oportunidades, tempo. Contando os minutos, horas e dias, fomos nos alongando em um constante luto. E ele parece interminável. Sem conclusão, ficamos aqui, flutuando no tempo e espaço, esperando um encerramento de ciclo. Mas como encerrar essas sensações? Como deixar os relacionamentos para trás? Os falecimentos? As mudanças? Ou melhor, o que permaneceu igual e estagnado?
Pelo olhar de Ryusuke Hamaguchi somos puxados por tantas questões e nenhuma resposta. Kufuku, que viveu na sombra de casos extraconjugais mantidos por sua esposa Oto, termina sua jornada sem conseguir responder qualquer uma das questões que lhe afligiam. A sua única certeza é que, em algum momento, vai ficar tudo bem. Precisa ficar tudo bem.
Isso porque mesmo cercado de destroços, ainda há a possibilidade de se reerguer e encontrar algum caminho. Diferente do conto de Haruki, que é situado em Tóquio, o longa é ambientado em Hiroshima. Atravessamos, com os personagens, ruas calmas e monumentos de paz, que tentam preservar as memórias assombrosas das bombas atômicas, mas também dar a sensação de encerramento. De que, de alguma forma, ficou tudo bem.
Mas, mais difícil do que se livrar dos escombros, é lidar com a culpa do sobrevivente. Com uma narrativa bem similar a de Acima das Nuvens, filme protagonizado por Juliette Binoche e Kristen Stewart, o espectador cai na mente dos personagens através de conversas densas. A partir disso, tentamos compreender o que move e machuca essas pessoas tão singulares, suas perdas e como lidam, ou não, com elas.
É angustiante como nada parece acontecer na tela, mas é uma jornada necessária para compreender o que não é dito. Curiosamente, às vezes, é repetitivo. Ao separar o filme em trabalho teatral e realidade, muitas questões permanecem de forma insistente na tela. Mas há um cuidado para que não aconteça das quase três horas de filme se tornarem cansativas.
Pelo contrário, esperamos por respostas tanto quanto o protagonista. Tentamos encontrar alguma coisa que nos acalenta, que nos ajude a superar também. Também estamos de luto. Também estamos perseverando. Assim como o Tio Vânia da peça, estamos sofrendo, tentando sair desse poço sem fundo que se tornou a pandemia. Mesmo com seu final otimista, é curioso pensar que não há receita de bolo.
Não há um jeito certo para seguir em frente. Leva tempo. Como as viagens de carro e as fitas com os ensaios de Kafuku. Elas levam tempo para serem feitas, mas também para serem memorizadas. Nada é de uma hora para outra. Nada é instantâneo. Muito menos Drive My Car. Um filme que consegue dizer muito mais do que já diz.
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_Fonte:
Junno Sena
Legião dos Heróis
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CRÍTICA da SEMANA
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Se tem uma coisa que sempre me impressiona no cinema de Paul Thomas Anderson – PTA para os íntimos – não é a regularidade da sua filmografia, característica que é bem comum dos grandes cineastas. Chama-me atenção sim o ótimo poder emocional que ele tem em narrar histórias intimistas que abordam amor, solidão e redenção dentro das jornadas cinematográficas a que se propõe oferecer aos seus personagens, os tirando das zonas de conforto juntamente com o espectador que acompanha do outro lado da tela.
Licorice Pizza reúne estas características acima citadas, para contar pela terceira vez, uma história de amor na carreira do diretor. Passado nos anos 1970, temos a relação entre Gary (Cooper Hoffman), que apesar da pouca idade – 15 anos – já é um adolescente prodígio, ator de uma série televisiva, empreendedor precoce do mundo dos negócios e que acaba se apaixonando à primeira vista por Alana (Alana Haim, cantora da banda pop Haim em sua estreia nos cinemas), uma jovem adulta judia de 25 anos, indecisa, mas que sonha ser atriz. A diferença de idades não impede de eles estabelecerem uma atração platônica e volátil no Vale de São Fernando, subúrbio de Los Angeles.
Nota-se neste novo trabalho que o cineasta faz um filme claramente autobiográfico e pessoal – as escolhas de Cooper, filho do saudoso e inesquecível Philip Seymour Hoffman, ator que mais trabalhou com o cineasta e Alana, cuja banda Anderson dirigiu vários clipes, são indicativos disso – que mergulha no subúrbio americano californiano dos anos 1970 para falar sobre a docilidade juvenil e sua delicadeza, a partir dos encontros e desencontros que Gary e Alana tem durante as suas trajetórias de vida.
CORRER COMO ATO APAIXONADO
PTA já na primeira cena do filme – com o seu habitual plano-sequência – deixa claro que estamos diante de um filme romântico, cuja câmera capta o espírito gracioso da dupla protagonista, além de traduzir a atmosfera minuciosa na sua estranheza visual, narrativa e na elaboração dos personagens. Aqui, a descoberta do amor e o quanto ele é um facilitador no processo de autoconhecimento na relação entre Gary e Alana, ajuda ambos a romperem os bloqueios emocionais e assim se relacionarem de uma maneira madura entre eles, com o mundo e nas relações a sua volta.
Em Licorice Pizza, passar o tempo em movimento é uma forma de conhecer profundamente a pessoa que se ama, o que explica o casal estar sempre correndo durante o filme, talvez em busca de algo, talvez em fuga deles mesmos, talvez em experimentar a mesma sensação de conexão do primeiro encontro. Por mais que os caminhos do casal se desenlacem, eles sempre estarão a espera um do outro, afinal o verdadeiro amor adolescente não é isso? Do medo natural ao prazer que a juventude proporciona, das reações espontâneas nas experiências de primeira viagem que contribuem na jornada de amadurecimento, da inocência na descoberta do primeiro amor e os sentimentos e laços que percorrem a relação à dois na busca pela segurança afetiva.
São dentro destas temáticas, fatiadas em formato de pizza e fermentadas para impulsionar a sua narrativa episódica, que PTA revela urgência e o arrebatamento dos impulsos juvenis de Gary e Alana como se os dois corressem desenfreadamente para não deixarem a paixão e o medo proveniente dela, escapassem de suas mãos. A alegoria do “correr” nada é mais do que uma necessidade de viver a paixão na sua intensidade.
O sentimento saudosista que o diretor impõe neste coming of age de descobertas ajuda a costurar homenagens ao cinema clássico romântico com diversas referências a filmes, atores, séries e situações ao mundo hollywoodiano era do auge da Nova Hollywood – a participação dos grandes Tom Waits e Sean Penn, este uma espécie de personagem paródia de William Holden, escancaram este olhar cínico do cineasta em torno desta época – e até mesmo em pincelar memórias nostálgicas para pontuar as conversas reminiscentes e puramente românticas entre eles. É como se todo o filme fosse formado por pequenos contos que navegam por situações prosaicas, surreais e que se valem do humor absurdo e do romance peculiar bem especial na sua maneira de falar sobre um período cinematográfico mágico no imaginário cinéfilo.
A ENCANTADORA QUÍMICA DE ALANA E COOPER
Gosto ainda da forma que Anderson dimensiona as personalidades do casal, com a ousadia e inovação de Gary nos negócios sendo uma alegoria sobre sucesso do movimento da Nova Hollywood e do empreendedorismo capitalista americano. Já Alana retrata o naturalismo da descoberta e da vocação, lidando com um mundo masculino que praticamente a deseja e a descarta em relação aos desejos, uma representação complexa sobre a arte mais genuína e autoral dentro do cinema.
Essas sensações só são possíveis porque Cooper Hoffman e Alana Haim defendem com excelência seus personagens. O primeiro traz a confiança – herdou isso do gene do pai – o charme e a inocência de Gary ao mesmo tempo que mostra uma intepretação sólida em expor a mentalidade de um homem de 40 anos do seu personagem, indo do menino ao homem com uma grande naturalidade.
Ela empresta não apenas seu nome e sua família na constituição do elenco, como também irradia sua personagem com uma força de carisma e sarcasmo, sempre utilizando sua beleza não-convencional para magnetizar o público, facilitada pela fotografia de Michael Bauman que utiliza rompantes de luz solar invadindo a tela e reiterando o brilho dela.
PEQUENOS EXCESSOS
Apesar destas ótimas qualidades, é perceptível que Licorice Pizza não é tão sólido como os outros filmes de Anderson. Ainda que siga uma direção particular de intimidade com seus atores e personagens, há uma vasta coleção de personagens secundários e subtramas que acrescentam muito pouco a trama principal do filme.
Diferente do que aconteceu em Boogie Nights e Magnólia onde os subenredos se faziam muito presente e dava sustância a história principal, em Licorice Pizza temos situações e pessoas que aparecem do nada para depois sumirem, sem deixar saudades ou darem relevância a trama amorosa. Exemplo disso é todo o manual de pequeno empreendedor de Gary que se torna um porre e deixa o filme sem foco e tedioso em certos momentos. Até mesmo a minha cena favorita no filme, a do caminhão sem gasolina que conta com uma ponta inspiradíssima de Bradley Cooper, em versão psicopata com ácido, seria ainda melhor se mais bem contextualizada.
Que fique claro: o filme tem instantes lindos tipo a cena das carteirinhas e outros divertidíssimos como a entrevista na agência de atores, além de recriar o subúrbio californiano com uma trilha esplendorosa – o que falar de Gary correndo entre os carros ao som “Life of Mars” de David Bowie, enquanto temos uma dimensão de fim de mundo causado pela crise do petróleo. Isso não tira a sensação de um filme torto com bons momentos, onde o talento de Anderson de contar grandes histórias se perde em algumas das suas vaidades.
Isso não impede Licorice Pizza de ser uma bela experiência sensorial imersiva, que dentro da sua história amorosa, traz uma mensagem bacana que as sementes do amor ajudam a florescer no amadurecimento juvenil um mundo melhor para nos relacionarmos. Paul Thomas Anderson, sem grandes pirotecnias, faz a arte cinematográfica tocar fundo em nossos corações.
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Danilo Areosa
Cineset
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Hong Sang-soo é um cineasta de poucas palavras. Dono de um cinema que não se preocupa em se igualar às linguagens mais utilizadas mundo afora, seu domínio da Sétima Arte é visível em apenas uma das cenas deste “A Mulher que Fugiu”: em um jantar em um dia qualquer, duas mulheres conversam sobre amenidades, e transformam suas vidas em um espetáculo que vai muito além do que a câmera móvel captaria. No plano fixo, os detalhes estão por trás dos suspiros, dos trejeitos com a boca, do posicionamento das mãos.
À primeira vista, o filme é um convite ao espectador mais acelerado se entediar em cinco minutos, mas, por conta do talento do cineasta, responsável pelo roteiro e, definitivamente, pelas simbologias por trás de tantos encontros, é bem provável que se sinta preso sem saber ao certo o porquê. É simples, como tudo o que o cineasta constrói. As cenas são intrigantes porque grande parte de seus significados está por trás, está naquilo que está sendo apontado, apreciado, observado e analisado – e jamais mostrado. Com isso, o cineasta brinca com a curiosidade da rotina, com o significado das amenidades de pequenos momentos que poderiam acontecer com qualquer pessoa.
Assim, Gam-hee (Kim Min-hee) é a peça-chave que interliga todos os significados. A protagonista vai de um lugar a outro, apenas para bater um papo, viver sua vida, matar a saudade ou se alimentar. Não há grandes acontecimentos, assim como não há câmeras transitando para cima e para baixo, explorando todas as vertentes da linguagem cinematográfica. E o resultado disso é uma aula de cinema, porque Sang-hoo é habilíssimo em explorar cada tomada em seu máximo potencial. Em uma cena na qual a conversa ocorre à mesa, com um bloco de notas aqui, vaso cuja planta está acomodada acolá, e nada parece influenciar o cenário, na verdade, faz com que o espectador preste atenção à janela, cuja paisagem magnífica serve de contraste ao papo banal. Com um zoom, o diretor move quem assiste ao filme de um ponto a outro da narrativa, sem precisar de nada a mais para que isso aconteça.
Por sua vez, Gam-hee parece sentir o poder da aleatoriedade de seus gestos, como se soubesse do impacto sutil que causa às pessoas. É como se ela fosse uma peça motora, e despertasse para a ação, qualquer que seja, objetos inanimados que se transformam em humanos. Como se estivessem em um jogo de simulação de realidade, e precisassem de estímulo do jogador para efetuar suas tarefas. O mais interessante, porém, é a brincadeira trazida pelo nome do longa, pois se trata da mãe da vizinha da amiga da protagonista: eis a mulher que fugiu.
Com planos fixos e longos, o diretor permite que seu roteiro surta o efeito através das ações, e as palavras cumprem a função de preencher essas lacunas de maneira nada expositiva. O efeito disso é o retrato de realidades simples, entremeadas por uma mulher brilhantemente escrita, tão complexa quanto as verdades que profere – e que nem todas são acreditadas pelo espectador, aliás. Com isso, se por um lado é intrigante experienciar o que o cineasta deixou escondido do plano, e que protagoniza as diversas cenas apenas pelas ações de seus personagens, por outro a personagem principal faz com que as dúvidas se tornem ainda maiores.
No final das contas, é como se Gam-hee fosse a vizinha, a amiga ou a prima de todas as outras personagens, e que se embrenhasse sem que estas percebessem a naturalidade com que provoca o despertar de certos assuntos. Ao mesmo tempo, Gam-hee não é construída como alguém misteriosa, e sim como um tijolo essencial para pavimentar aquelas realidades. E tudo isso é feito pela excepcional fotografia, que transforma os planos fixos em verdadeiras metamorfoses. Tudo acontece enquanto nada parece acontecer, e o despertar que isso provoca no espectador está nos primórdios do cinema.
Hoje, porém, com toda a técnica desenvolvida e tecnologia disponível, Hong Sang-soo é o tipo de cineasta que mostra ao mundo como construir um trabalho excepcional, sobre a vida, as amenidades e a importância que têm para preencher o tempo de cada pessoa. Com o talento de Kim Min-hee, que se permite tornar-se complexa à medida que o tempo de tela sugere que isso aconteça, não é à toa que o resultado seja essa construção constante e latente do que é, de fato, excepcional na vida.
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Denis Le Senechal Klimiuc
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Guillermo del Toro escalou um elenco fino para estrelar seu novo longa, “O Beco do pesadelo”. Ele tinha a difícil missão de readaptar um clássico underground da literatura americana que se tornou um excelente filme noir em 1947.
Embora peque um pouco no ritmo, lento no começo, o diretor mexicano entrega uma obra elegante e atormentadora sobre moral e a psique humana.
Del Toro cria um thriller noir sanguinário com sua assinatura fantástica ambientada na sujeira e no encantamento dos circos antigos americanos. O mundo vive o caos da Segunda Guerra Mundial, e os Estados Unidos, apreensão e contenção.
O filme, baseado na obra “O Beco das ilusões perdidas”, publicada em 1946 pelo autor William Lindsay Gresham, segue o misterioso Stan Carlisle (Bradley Cooper). Ninguém sabe de onde ou a que veio, mas sabemos que ele precisa passar uma borracha no passado e deixar a poeira baixar enquanto luta por alguns trocados.
Ele ganha um emprego de faz tudo no circo de Clem, interpretado brilhantemente por Willem Dafoe. A ambientação do picadeiro decadente criado por Gresham e adaptado por del Toro é interessante e guarda truques que revelam o pior do ser humano.
O mais grotesco deles é a atração “Selvagem”: dezenas de pessoas pagam seus últimos centavos para ver um homem sujo e despido de qualquer humanidade matar, estraçalhar e devorar com a boca animais vivos. Mais desumano ainda é ver como Clem arma a armadilha perfeita para atrair bêbados, andarilhos e pessoas sem esperança para esse show de horrores.
Stan é esperto e ambicioso e começa a subir degraus na hierarquia circense. Logo se torna ajudante de Zeena (Toni Collette) e Pete (David Strathairn) em um número de mentalismo.
Stan descobre que o casal desenvolveu um sistema de códigos para ler os segredos de qualquer pessoa, a la Sherlock Holmes, e já ganhou rios de dinheiro com o truque no passado. Quando Pete morre, Stan herda seu código de ouro e convence a inocente Molly (Rooney Mara) a deixar o circo e ir com ele para a cidade grande atrás de grana e glória com uma versão melhorada do número antigo.
A partir daí tem início a segunda etapa do filme, com um ritmo muito melhor que a anterior. Na cidade, Stan conhece a psiquiatra Lilith (Cate Blanchett), rica, cética e amiga dos poderosos. Ela topa ajudar o charlatão a ser uma espécie de mentalista mediúnico para os figurões mais importantes da cidade a troco de analisá-lo sem que ele pestaneje.
A história de 2h30 sobrepõe peças de horror, romance, policial, melodrama e jogo psicológico para chegar a um quebra-cabeças final surpreendente e extremamente bem amarrado sobre nossos fantasmas, medos e erros passados que insistem em nos assombrar.
Del Toro alterna do luxo à decadência com uma técnica impecável e nos convida para uma viagem pelo submundo dos circos e espetáculos, mas também para as arestas mais intrincadas da mente.
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_Fonte:
Thaís Matos, via G1.
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